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Quando se encontra seu verdadeiro ponto zero







De súbito, despertou. 
Era ainda madrugada, olhou no relógio faltavam alguns minutos para as cinco horas. Virou-se para a parede e novamente tentou adormecer, em vão. 
Levantou-se, olhou para o relógio e constatou que ainda faltavam os mesmos minutos para as cinco horas, pensou que a bateria do relógio havia acabado, caminhou até sua pequena mesa no canto do quarto, pegou o celular e marcava o mesmo horário. Pensou que o momento anterior fora um sonho. Como não conseguia mais dormir, foi tomar um banho, depois, voltou para a mesa e sentou-se diante do computador, resolveu iniciar algumas pesquisas até que o dia amanhecesse, se concentrou tanto que não percebeu o tempo passar. 
Quando se deu conta disso, foi até a janela e a abriu, acreditando que já estaria claro, no entanto, surpreendeu-se por observar que ainda estava escuro. 
Olhou para o céu, como sempre fez, sempre foi apaixonado pelo céu, estrelas e corpos celestes e observou que o céu não era o mesmo, as estrelas pareciam mais próximas e não reconhecia nenhuma das constelações ou as que tinha como referência de localização. Voltou para a mesa, olhou novamente para o celular e o horário permanecia o mesmo. 
Saiu apressado para a rua, tudo estava deserto e silencioso, então, se deu conta de que já não havia mais o tempo, não havia mais o ontem ou amanhã e o que existia era somente o agora e nesse agora, pela primeira vez, ele realmente estava em contato com o mais verdadeiro de si, o vazio, o início de tudo, o todo em si, a folha em branco onde uma nova história poderia ser inciada.

O silêncio da madrugada fora interrompido com estalidos de algo rompendo atrás de si, o som parecia como de folhas secas caídas das árvores e sendo carinhosamente pisadas. Voltou-se de súbito para o local de onde teve a impressão de ser a origem do som. Havia apenas escuridão e silêncio. Por um instante, que lhe pareceu a eternidade, teve a certeza que até mesmo o seu coração havia parado, pois, nem o som da própria respiração conseguia ouvir. Ficou ali, apático, estático, apto a agir se fosse necessário, ainda que isso significasse correr, foi então que se deu conta, não sentia o seu corpo. 
Foi tomado por uma sensação, que ao mesmo tempo que lhe causava horror, lhe trazia uma estranha leveza. 
Passou a observar a si, esquecendo-se do que poderia estar a espreita na escuridão, e então, constatou, seu coração realmente não batia, não havia respiração, não sentia frio e nem calor, e também não sentia o peso de seu corpo. Olhou em volta confuso, buscou algo de concreto e real que pudesse lhe dar a certeza de tudo não estava sendo nada além dum sonho muito esquisito, no entanto, o de mais concreto que conseguiu constatar era de que tudo se tornou abstrato, inclusive sua existência.


E uma existência abstrata não é assim tão ruim, percebeu que ao tornar-se abstrato, transforma-se no próprio tempo, é o espaço preenchido e seus vazios, são todos os seus inícios e fins simultâneos. O ontem, hoje e amanhã, são apenas o agora, todos mesclados numa mesma intensidade de frequência a qual, bastando apenas um desejo verdadeiro e intenso seu, e se dividirão em dois ou quantas outras possibilidades ansiar. 
É uma sensação que mistura o peso e a leveza, a rigidez e a flexibilidade, o pensar e o sentir, o estar e o ser numa única fração da menor forma de energia imaginável.
Ser abstrato, não é se abstrair da realidade ao redor, mas, é estar nela, mas, não sê-la. É aceitar as suas interferências e influências, observar, absorver, compreender, filtrar e descartar o que não lhe serve. 
É aceitar e compreender que também a influencia e ter a consciência da responsabilidade que isso traz e consciente disso colocar o seu melhor à favor do fluxo da energia que permeia essa abstrata realidade, essa abstrata existência.

                                                                        Carlisson D. da Mota