Caminha-se só por estradas que não se sabe onde levará. Apenas segue-se em frente, sonhando, pensando, cantando e solidando. Sente-se como se a brisa guiasse pelo caminho, seguindo a melodia da canção que era soprada pelo vento que de repente chegou para acompanhar a jornada. A canção e seus tons dava a impressão de fazer o corpo levitar.

Nada se busca, nada de especial, apenas o prazer de caminhar.Somente seguia a vida, como rios que seguem seus cursos, o céu não era mais belo que o de outras noites e nem tão feio quanto tardes nubladas.

Surpreendente, não se nota a distância percorrida quando se observa o caminho pelo qual se passa, não se observa o tempo, quando tempo é tudo o que se tem. Via-se refletir-se em lampejos de luzes que de tempos em tempos iluminavam o caminho, ora vindo do céu, ora vindo dos carros que apressados passavam. Não dá-se conta, mas, o espaço também deixou de existir quando tudo o que existia era somente a imensidão em torno de si.

Não pensa, apenas permite-se ser envolvido pelo vácuo silencioso do universo que resolveu se fazer presente ali. Solta-se como folha desprendida do topo da árvore mais alta e voa, flutua, segue sem lógica, sem rumo, sem sentido, apenas para sentir. Baila-se num ritmo descompassado, canta-se semi-tonado, declama-se em idiomas misturados e errados, apenas, para sentir-se.

Vive-se sonhos de um futuro que jamais será como se deseja, lembra-se de um passado que jamais acontecerá como é visto agora. Mas, nada disso importa, sente-se, livre, sem amarras, apenas vive-se.

E segue-se pela longa e estreita estrada, ora reta, ora curva, ora plana, ora inclinada. Trechos macios, outros nem tanto, alguns até com pedregulhos, mas, um trecho muito maior completamente florido.