Poucos sabem como é se sentir mal pelo mal que se faz a alguém. Muitos sabem que se sentem mal consigo por muitos e os mais variados motivos, mas poucos compreendem realmente quando está mal consigo por algo que fez a outro.
As vezes o ato de não fazer por alguém também provoca o mal estar.
E é como descer ao próprio inferno e conhecer os mais temidos dos demônios que habitam as facetas humanas. É se sentir mal por não conseguir oferecer ao outro aquilo que espera que ofereça e mesmo muitas vezes tendo a consciência de que não há obrigação em corresponder e menos ainda em esperar que se façam algo por si, é inevitável se sentir mal por isso.
É claro que há os que conseguem conviver com isso, mas os que não conseguem, esses sofrem calados, por muito tempo ocultam de todos e de vez em quando consegue ocultar de si mesmo, mas não é possível fugir de seus próprios fantasmas nas noites longas em que os olhos teimam em permanecerem abertos mesmo quando furtivamente Morfeu invade o espaço e tenta embriagar a alma com seus truques baratos.
É terrível conviver e viver carregando em si o peso do egoísmo, quando esse teve por intenção somar a alguém e se não eliminar amenizar o sofrimento, e no entanto, exatamente essa intenção o faz não conseguir seu intuito e sua dor se faz fechar e não mais corresponder. É doloroso olhar nos olhos daqueles que por algum motivo acreditamos que poderíamos oferecer o melhor e perceber que recebe mais do que dá e ainda assim se cobra em dar aquilo que sem saber o porque não se tem mais a dar.
E assim o egoísta que queria oferecer tudo se vê envolto em angústias, medos e sentimentos que tentou sepultar, o egoísta se vê preso em uma rede tecida de gestos e carinhos que sempre procurou e quando se deparou percebe que não tem o suficiente para corresponder e sofre, chora e engole suas dores por saber que não é justo levar aqueles que queria ajudar, algo que não pertencem a eles, e tenta ter para si as dores que o rodeia e tenta dessa forma encontrar respostas para perguntas que jamais lembrou-se de um dia se fazer.
O egoísta que um dia se acostumou a receber pouco, agora se assusta com o muito que o cerca e o muito que sempre acreditou que oferecia se torna nada diante da sua realidade. Ele se torna nada diante de tudo, pois se dá conta que apenas alimentava seu ego acreditando ter uma importância que nunca deixou de ser insignificância, pois, ainda que buscando se doar a todos, na verdade se doava apenas para si mesmo, para satisfazer seu egoísmo em um dia se tornar verdadeiramente importante para alguém.